Olhos nos olhos
Para mim é bastante claro que o referendo tem sido manipulado pelos media. É bastante claro que toda a gente tem direito à opinião - incluindo Magistrados do Ministério Público, comentadores de televisões e rádios públicas, mesmo se colocados em situação de suposta neutralidade como é o caso de moderadores de debates, Ministros - todos, menos, claro está, os padres, os bispos, a Igreja.
Esta está a ser controlada diariamente, denunciada por ter posição, como se fosse de esperar que não a tivesse, como se a Igreja não tivesse direito a expressar e defender uma posição nesta matéria.
Curiosamente, estou convencido que essa estratégia não terá grandes resultados. Isto porque penso que os portugueses "mediatizados" têm de há muito a sua posição definida.
Mas há outro país que não sai nos jornais - e também não os lê. Um país que não percebe argumentos rebuscados sobre sistemas nervosos centrais. Esse país sabe ouvir o coração. Sabe ouvir um coração. E sabe que se o coração bate há vida.
Sabe que se há vida, quem acaba com ela mata.
Não sabem que a vida é única e irrepetível, mas sabem que dos seus irmãos não há dois que sejam iguais, a não ser os gémeos verdadeiros. E mesmo assim...
Quem pensa assim, de uma forma simples, tem a certeza: ABORTO LIVRE, NÃO.
O resto é conversa.
Mas é preciso motivar essas pessoas para irem votar. Explicar-lhes que é importante e que o seu voto vale tanto como o daqueles senhores de Lisboa que dizem umas coisas complicadas como se elas fossem mesmo importantes. E dizer-lhes que eles também podem participar, que eles podem motivar os seus vizinhos, a sua família, os seus amigos.
É aqui que o NÃO pode ganhar o referendo. Este contacto directo não sai nos jornais. Nem nas sondagens.
Esta está a ser controlada diariamente, denunciada por ter posição, como se fosse de esperar que não a tivesse, como se a Igreja não tivesse direito a expressar e defender uma posição nesta matéria.
Curiosamente, estou convencido que essa estratégia não terá grandes resultados. Isto porque penso que os portugueses "mediatizados" têm de há muito a sua posição definida.
Mas há outro país que não sai nos jornais - e também não os lê. Um país que não percebe argumentos rebuscados sobre sistemas nervosos centrais. Esse país sabe ouvir o coração. Sabe ouvir um coração. E sabe que se o coração bate há vida.
Sabe que se há vida, quem acaba com ela mata.
Não sabem que a vida é única e irrepetível, mas sabem que dos seus irmãos não há dois que sejam iguais, a não ser os gémeos verdadeiros. E mesmo assim...
Quem pensa assim, de uma forma simples, tem a certeza: ABORTO LIVRE, NÃO.
O resto é conversa.
Mas é preciso motivar essas pessoas para irem votar. Explicar-lhes que é importante e que o seu voto vale tanto como o daqueles senhores de Lisboa que dizem umas coisas complicadas como se elas fossem mesmo importantes. E dizer-lhes que eles também podem participar, que eles podem motivar os seus vizinhos, a sua família, os seus amigos.
É aqui que o NÃO pode ganhar o referendo. Este contacto directo não sai nos jornais. Nem nas sondagens.
2 Comments:
Apoio, tal qual Frei Bento Domingues, a vontade plena pelo uso da consciência liberta.
E a consciência não é colectiva...
E essa mesma consciência é o bem maior, supremo, que realmente concretiza a pessoa, para lá do ser humano, da forma de vida e de outros imaginários entes sobrenaturais.
Quando alguma tipificação sócio-ideológica tenta restringir o pleno usofruto da consciência individual sobre a própria pessoa (e numa grávida, como constata o teólogo e filósofo Anselmo Borges, só existe uma pessoa: a mãe...) a interface do indefínivel totalitarismo kafkiano emerge até à concreticidade.
E a concreticidade aqui emergente é óbvia: aqueles que pretendem impôr a TODOS (e não somente a eles próprios!) um «modo de usar» da consciência.
A isso, NUNCA.
Ao referendo do dia 11 SIM.
Eu, pela minha parte, estou com António Vaz Pinto.
Liberdade de consciência? Concerteza. Desde que não interfira com os direitos dos outros, incluindo, claro, o direito à vida.
Resposta a Frei Bento Domingues O.P., por P. António Vaz Pinto, S.I.
07/02/2007
Ao regressar ao Porto, domingo à noite, debrucei-me sobre a crónica de Frei Bento Domingues, O.P., "Por opção da mulher", como tantas vezes faço e tantas vezes com tanto gosto e proveito... Infelizmente, desta vez, brotou em mim a desilusão, a discordância e a necessidade imperiosa de lhe responder, no contexto de polémica instalada no país, mas muito para lá dela...
Limitado pelo tempo e pelo espaço, irei cingir-me a três tópicos referidos na sua crónica, que considero os mais importantes:
1. Consciência e norma ética.
Pode ser útil referir Aristóteles, S. Tomás de Aquino ou J. Ratzinger, o actual Papa, para relembrar que a suprema instância de decisão ética para o cristão, acima da própria suprema autoridade eclesiástica, o Concílio ou o Papa, é a consciência individual. É doutrina mais que tradicional.
Mas é bom ter presente que este princípio não vale apenas para a questão do aborto; se alguém se afirmar, cristão e simultaneamente, em consciência, defensor da escravatura, da pedofilia ou do racismo, que lhe dirá Frei Bento? Que lhe pode opor? Fica entregue a si próprio e a Deus...
Importante, para todos, é informar e formar a consciência para que cada um possa decidir e agir em conformidade com a recta razão que é a norma ética. E é aqui que nos devemos situar: o que é conforme à razão, às exigências de natureza humana individual e colectiva?
2. A problemática jurídica e penal e os limites da tolerância.
Numa sociedade laica e plural como é a nossa - e estou muito contente que assim seja -, os cristãos ou a Igreja não devem nem podem impor a sua "visão" aos outros membros da sociedade. Mas, tal como os membros de outras confissões, agnósticos e ateus, têm todo o direito e até o dever de propor valores e princípios, na busca de um denominador comum que permita a convivência, nunca totalmente pacífica, em sociedade...
É precisamente disso que se trata: o ordenamento jurídico de uma dada sociedade, incluindo o ordenamento penal, tem pressupostos e valores donde brotam as diversas normas. Por exemplo, em Portugal, é proibido o roubo, o homicídio, o racismo, a difamação, etc. Quer isto dizer que a sociedade portuguesa, através dos seus legítimos representantes, legisladores, assume como valores e pressupostos a propriedade, a vida humana, a igualdade racial, o bom nome, etc., consagrando-os como "bens jurídicos", a preservar e defender.
Essa é que é a questão que se coloca a todos nós, no próximo referendo: independentemente da nossa religião (ou ausência dela) em que modelo de sociedade queremos viver? Que valor consideramos maior? A vida humana, raiz de toda a dignidade e de todos os direitos, "inviolável", como diz a nossa própria Constituição (Artº 24, n. 1), ou consideramos que outros valores, vg. saúde, segurança, não humilhação, valem mais do que a própria vida?
Dir-se-á: mas ninguém é obrigado a abortar; proibir o aborto é impor aos outros as nossas convicções: proibir a escravatura, o racismo e a pedofilia também é impor as nossas convicções àqueles que pensam doutra maneira... ou será que essas proibições devem desaparecer do Código Penal?
Em cada momento, cada sociedade faz escolhas de carácter ético e, embora possa e deva, nas nossas sociedades pluralistas, deixar largas margens de liberdade e não se intrometer na vida e moral privada de cada um, tem de assegurar as normas jurídicas mínimas de convivência social. Quando a liberdade de um colide com a vida e a liberdade de outro, a sociedade pode e deve fazer escolhas e estabelecer limites. E estas escolhas são feitas sabendo-se de antemão que haverá quem não concorde, que haverá sempre maioria e minoria....
O pluralismo não pode ser ilimitado e a própria tolerância levada ao extremo autodestrói-se...
3. "Por opção da mulher"
Ao contrário da actual lei - com a qual não concordo, evidentemente (mas que tem o mérito de manter o princípio do respeito pela vida humana e da ilicitude do aborto, apenas abrindo excepções por razões ponderosas) - o que é proposto na pergunta agora colocada a referendo, embora se refira apenas a "despenalização do aborto", corresponde a uma realidade totalmente diferente: desde que praticado em estabelecimento de saúde autorizado e até às dez semanas, a prática do aborto, de facto e de direito, fica totalmente liberalizada e até financiada, dependendo apenas da vontade da mulher. Até às dez semanas, é o total arbítrio...
Será isto justo, saudável, estará de acordo com os fundamentos do modelo de sociedade, defensora dos direitos humanos e da dignidade da vida humana, que demorou tantos séculos a construir?
Se é certo que a mulher, na sociedade e na Igreja, foi e continua a ser injustamente discriminada, não parece sensato nem justo que se introduza agora uma discriminação positiva, em favor das mulheres, no campo jurídico e penal... O ser humano - homem e mulher - é capaz do pior e do melhor - sem distinção de sexo...
Apesar de saber bem o rol de sofrimento da mulher que muitas vezes acompanha a prática do aborto, as pressões, sociais, familiares e afectivas a que está sujeita (muitas vezes do próprio homem que contribuiu para a concepção do feto), entregar à mulher, em total arbítrio, a decisão de vida ou de morte de um ser humano não é justo nem democrático. E diria exactamente o mesmo, é evidente, se o homem fosse o decisor...
O combate ao aborto (que todos reconhecem como mal, incluindo os defensores do sim) não passa pela sua liberalização, mas pelo combate às suas raízes... Pais, escola, família, comunicação social, sociedade em geral, a Igreja e o Estado... todos temos culpas e todos temos muito a fazer... O apoio afectivo, psicológico, social e financeiro às mulheres - efectivo - é indispensável e urgente.
Não sei qual será o resultado do referendo próximo. Mas sei que a luta pela vida continua e que o que tem futuro na história da humanidade não é o que destrói, mas o que fomenta a promoção integral da vida humana: o homem todo e todos os homens, sem excepção. Isso é que é ser universal, isto é, "católico"...
Caro Frei Bento, espero encontrá-lo na próxima curva da nossa história, do mesmo lado, o lado da defesa dos direitos humanos, sem sim, nem mas...
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